ver é também se ver

o gosto de sua palavra

enche de luz essa sala

que se torna prateada,

não julgo aqueles que

não leem as páginas

mais secretas, nem

veem que, próxima

ao mínimo grão de

areia há uma sombra

a lhe rodeia, saber

ver não é o mesmo

que jogar carteado

ou fazer simples o

complexo matemático.

não ser astuto e perceber

conforme o cálculo.

não se olha com um

método, metro, ou

com a régua valorizada.

não se olha como se observasse,

pela fechadura, um casal

apaixonado, ver é ser a

formiga que anda,

o homem que suplica, o

sublime e o infame.

saber ver, é ser ao que

no fundo, nada lhe parece,

mas antes de ver, é necessário

saber-se solitário, desamarrado

das coisas quem mais carece,

saber ver, é deixar de ser,

pra ser aquilo que a

vida dividida não pode

saber, é saber que o outro,

mesmo que esse outro seja

uma pedra, é parte do seu esboço