de dentro
espremido entre os enganos
do ser, o poema esguicha
sangue e bagos de agonia, e
como uma tocha enfurecida, desce
à procura de si mesmo, não
conhece palavras, nem o urro
do vento mais cálido, do escuro
ondula por entre ondas profundas,
estrangula, rasteia, é verme, é o
tombo que não foi registrado, o
poema é pequeno, bate palminha,
levanta os braços, não! estou mentindo,
o poema não é desse mundo, já nasce
nascido, já nasce com barba e com
a casa sobre sua ossatura, desamarra
de toda sorte de percalços, o poema
não sente, é o sentir sendo exposto
numa linguagem que engole a si
mesmo e se torna um nós de tormenta,
então o poema se veste, procura sua
carteira, olha o relógio, hora de sair,
fecha a porta e ao pisar na calçada, um
sol lhe arromba a coluna, que enverga,
enverga, mas não quebra, está forte!
já pode caminhar pelo mundo
e ser vida naquele que lhe deleita