Solidão
Enquanto repousamos, mal nos damos conta do quão bem assenhorado descansamos; em nosso quarto lúgubre e quente, pacientemente nos acompanham ao leito tristes demônios, com seus vultos negros e voluptuosos que nos abraçam como uma mãe abraça a sua cria.
Como pais com seus filhos queridos, levam-nos a passeios dos mais variados, alegres ou maçantes, mas sempre marcantes.
E assim, sonhamos feito crianças; vivendo uma vida alegre e repleta de caos; traumas desconhecidos; uma inocência de bom espírito.
Infelizmente, logo se põe em cena a luz macia da alvorada, iluminando os telhados das casas mudas, e anunciando o novo dia.
E então, entre o piar dos pássaros e a rouquidão desanimada dos primeiros carros que passam a rua, a amargura do café, tão negro de angústia, traz à luz a triste confissão dos vivos despertos:
Desde o momento em que acordamos até a hora em que dormimos, tudo é uma ode à solidão; de versos caprichosamente escritos, próprios ao mais hábil poeta; uma redondilha harmoniosa, onde cada desastre é uma rima;
...e frustrações sobre frustrações intercalam-se ansiosamente com infinitos reveses, dando ritmo à monótona melodia da vida...