A cortesã
Adentras meu lar
e pousas no meu leito,
como se, em toda a nossa vida,
fosse assim do mesmo jeito.
Sendo, embora, total desconhecida,
absoluta intimidade eu reconheço,
em cada dobra deste corpo teu.
Tua voz para mim familiar,
teu sussurro doce e costumeiro,
teus recônditos segredos revelados.
Mais tarde, em serena escuridão,
guardo teu sono.
O cheiro inconfundível do suor,
no corpo lasso, em abandono.
Tua alma sinto acesa e perfumada
me envolvendo, em sonho,
inteiramente!
Na finitude da noite,
és minha antiga conhecida
dos tempos imemoriais.
E chega a madrugada anunciando
um novo tempo,
um novo Sol que vem
levar-te pura para o recomeço.
Não és mais nada e nada sou também.
Seu nome e sua história desconheço.