Se pudesse afagar o tempo

Com minhas mãos calejadas

Deita-lo-ia em meu colo,

Cantando uma canção de ninar.

 

Recostaria-o em meu peito,

Para soar em unidade com as batidas.

 

Tamanha crueldade

Vê-lo passar ligeiro...

Num sequestro abrupto da inocência.

Dando azar aos ombros

Que carregam o peso de crescer.

 

É doloroso.

Como é doloroso vê-lo partir.

Sem retorno.

 

Sacastes a arma e,

Atirastes sem remorso.

 

Na morte do tempo,

A sepultura é profunda.

Como o remordimento o é.

 

Se pudesse afagar o tempo.

Recompensaria-o por ter sido certeiro.

Passou, mesmo que ligeiro. Mas passou.

 

Se pudesse afagar o tempo.

Traçaria o sinal da cruz

em sua fronte.

E enquanto ele dormia.

Alguma razão lhe prestaria..

Para fazê-lo hospedar sentimentos perdidos,

Na guarita da solidão,

até que estanque a chuva das dores,

e o sol apareça como cura.

 

Se pudesse afagar o tempo.

Se eu o pudesse afagar.

Jamais o teria perdido.

 

 

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 05/12/2021
Reeditado em 05/12/2021
Código do texto: T7400500
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