Da Fisionomia das Coisas
Minha fisionomia é o deitar-me na cama branca,
É o levantar-me,
É o ir-me para outro lugar alheio à cama branca.
Não hei de precisar qualquer outra fisionomia,
Porque assim estou de acordo com as coisas,
E não me é possível o não estar de acordo com as coisas,
Já que compartilho da natureza de tudo.
Dizer que vejo uma tâmara com os olhos mais escuros que a tâmara,
E que a natureza da tâmara é ser lisa ou vincada,
E que minha natureza é diferente da natureza da tâmara
É subtrair-me, juntamente com a tâmara, à extensão e ao tempo do cosmo.
Furtar do cosmo minha forma e a forma de uma tâmara equivale
A ser eu deus eterno e deus passar, submerso no mundo e nas coisas,
Porque para o cosmo é tão impossível contestar uma mentira
Quanto sustentar uma verdade.