MADRE MÃE

acuda-me, madre mãe,

na agonia da noite insone em leito pedregoso,

da violência incoerente dos cães

que fazem do rasgar da carne mister e gozo

receba minha prece maculada,

pois nem sempre a ti orava quando me punha de joelhos,

minha língua em outra língua educada,

se esmerava mais em sussurrar sandices a bons conselhos

receba minha prece bissexta

como socorro para meus ossos quebrantados

e eu, no papel de quem se despe da besta,

abro meu ventre e exponho meus orgãos profanados

e toco teu manto duvidoso,

deveras roto e ainda manchado da menarca,

tão humano quanto virtuoso

a coroa resplandece mas vejo em tua carne a marca

assuma, madre mãe,

que nem sempre teu braço me alcança no deserto,

que o mais doce de teus pães

nem sempre está perto

que, na fraqueza, tens sido apenas ventre

e nem sempre bendita és entre

as mulheres