Inquietudes

Inquietudes

Luiz Alberto Silveira

Te aquieta espirito meu, não acelera o que sei, só tu sabes o que sinto, o que penso, o que desejo, o que sonho. Só tu sabes o tamanho do que não consigo e do que era para ser e não foi. Só tu entendes o que faltou , e do que atingi , só tu compreendes se era tudo.

Sossega, te acalma, viverás além dos dias e das coisas não sentirás falta, pois delas, sem nada aqui chegastes, por elas te tornastes escravo e sem elas irás partir. Te tranquiliza espirito que meu corpo anima. Que não te transtorne a dor de não encontrar, a agonia de esperar, as marcas dos insultos da vida, aquele que te fez chorar, o filho que te fez pensar, o carinho que não aconteceu, o olhar que não se deu, a promessa que não se fez, o sofrimento que decorreu.

Exulta espirito meu, não dê aos medos as algemas que escravizem tua liberdade porque nela, só tu, sentirás a eternidade e não há dimensão que o medo não acabe. Espera e te serena, medita e sente, vê como o tempo te fez diferente, como muda a vida que agora sentes. Te liberta das nostalgias e da solidão sem sentido porque em breve serás outro e tudo o que era se foi, o que não veio passou, o que doeu sarou, o que sangrou estancou. A lágrima que correu secou, a raiva que corroeu se entregou, a alegria escondida voltou e sem causa ou razão fez-se um silente vagar e perceber que eras eu e viemos de um lugar onde tudo nasce, tudo sabe e tudo explica.

E sentiremos que ninguém, só eu - que sou tu - sou feito de música, de perfume, da essência do amor. Em ti sobreviverei , espírito meu, com tudo que só eu sei e no meu amago só eu guardei. Ninguém saberá de mim o que em mim, verdadeiramente, só eu passei e de tudo que aprendi. Dos problemas aprendi, das dores aprendi, dos caminhos aprendi, da tolerância aprendi. Do perdão aprendi. Da impressão que sempre faltava algo aprendi. Aprendi que só se aprende quando for por dentro. Por dentro de mim. Só sei das coisas do meu espirito. Dos demais só percebo movimentos, só acenos, só meneios, só olhares, só palavras. E sei que quando me enternecem, se fundem em mim e me elevam, percebo amor.

Te aquieta espirito meu, não és só tu, agora és eu. E se tiver mais alguém seremos nós.