Manoelina
Manoelina
Manoelina o feijão
Catava com maestria,
Dedilhava sobre a mesa
Uma muda sinfonia.
O tempo há muito já dista,
mas acho que Manoelina
Nasceu pra ser pianista.
E lavava toda a roupa
com bela coreografia,
Batia a roupa na pedra
e depois a estendia.
Tal leveza não se ensina.
Acho que Manoelina
Nasceu pra ser bailarina.
E varria todos os cantos
Espanava a poeira
E da goela o seu canto
Enchia a casa inteira.
No pedestal da vassoura
Acho que Manoelina
Nasceu para ser cantora.
E à tarde Manoelina
Desenhava com carvão
A alma que nem percebia
Que lhe escorria das maõs
De forma libertadora.
Acho que Manoelina
Nasceu para ser pintora.
À noite contava histórias.
Seu corpo todo falava.
Arregalava meus olhos
Co’as verdades que inventava.
Dela eu fui aprendiz.
Acho que Manoelina
Nasceu para ser atriz.
E ela sabendo, por certo,
que era por teimosia
Que os meus olhos abertos
Alongavam o meu dia,
Me tomava em seus braços
como só ela sabia...
Eu, então, adormecia.
E depois lá no seu quarto
Onde nem a lua entrava
Fazendo mil orações.
(As mesmas de seus patrões)
Quedava só e cansada.
Acho que ela nunca soube
Que nasceu pra ser amada.
Nasceu pra isso e aquilo.
O que agora importa?
Esta terra-manoelina
Para poucos abre as portas
E outras tantas manoelinas,
Estou certa... vivem mortas.