Manoelina

Manoelina

Manoelina o feijão

Catava com maestria,

Dedilhava sobre a mesa

Uma muda sinfonia.

O tempo há muito já dista,

mas acho que Manoelina

Nasceu pra ser pianista.

E lavava toda a roupa

com bela coreografia,

Batia a roupa na pedra

e depois a estendia.

Tal leveza não se ensina.

Acho que Manoelina

Nasceu pra ser bailarina.

E varria todos os cantos

Espanava a poeira

E da goela o seu canto

Enchia a casa inteira.

No pedestal da vassoura

Acho que Manoelina

Nasceu para ser cantora.

E à tarde Manoelina

Desenhava com carvão

A alma que nem percebia

Que lhe escorria das maõs

De forma libertadora.

Acho que Manoelina

Nasceu para ser pintora.

À noite contava histórias.

Seu corpo todo falava.

Arregalava meus olhos

Co’as verdades que inventava.

Dela eu fui aprendiz.

Acho que Manoelina

Nasceu para ser atriz.

E ela sabendo, por certo,

que era por teimosia

Que os meus olhos abertos

Alongavam o meu dia,

Me tomava em seus braços

como só ela sabia...

Eu, então, adormecia.

E depois lá no seu quarto

Onde nem a lua entrava

Fazendo mil orações.

(As mesmas de seus patrões)

Quedava só e cansada.

Acho que ela nunca soube

Que nasceu pra ser amada.

Nasceu pra isso e aquilo.

O que agora importa?

Esta terra-manoelina

Para poucos abre as portas

E outras tantas manoelinas,

Estou certa... vivem mortas.

Emília Casas
Enviado por Emília Casas em 22/03/2005
Código do texto: T7416