LÁPIS-LAZÚLI (5)

LÁPIS-LAZÚLI - 5

CHAVE DOURADA

Chave dourada

da nave solitária.

Chave escondida

da nave despercebida.

Poderias descortinar

os teus azuis.

Nave solitária

não se encontra mais a chave,

não se encontra nenhuma saída.

Nave a flutuar, esquecida...

LUZES

Fazendo voar a vida

e mais os habitantes

restaurados dos medos

das perdas, das partes incongruentes.

Fazer chegar a vida

por detrás dos cortinados,

esclarecer e soltar as redes

que desceram sobre os ombros.

Enfim, um trabalho milenar de luz

que se desprega da cruz

suavemente, ascendendo em seiva

por detrás dos descendentes desertos.

Por certo encontrar a vida ressurgida,

alumbrando um novo aspecto

circunspeto sob a esplanada de luz

da sideral luz multiplicada

setenta vezes por luzes

luzes, luzes, luzes...

CALENDÁRIO

Porque descrevo esta

vida não sublime

como um legendário crime

não sei o motivo.

O destino me exprime

e as mãos tecem o calendário

na angústia do posto fixo,

e o rosto diário se esquece,

se esquece o rosto como crucifixo

simboliza a dor que se

traz ao mundo,

sentenciando a paz.

Porque carregar este calendário

é o que desconheço no meu,

no nosso mesquinho rodar de dias.

Riscar de dias.

Riscar de dias apenas.

PINTURAS

Manhãs idealizadas,

escritas e confabulações.

Análises premeditadas,

justificando as questões.

Esperas nostálgicas,

sóis salvadores,

românticos esperar.

Esperar qualquer milagre do destino.

Mudança redentora.

Mentiras orgulhosamente creditadas.

E as verdades? Não sei...

Tudo não passou de manhãs abstratas?

O eterno cotidiano

a pesar, comprando trevas

para vendê-las ao tédio.

Tudo não passou de ares intocáveis?

De cenários vividos pela mente

de um perturbado?

Se for esta verdade

que não seja esta a verdade,

pois assim não haverá mais razão

para que eu viva...

CRENÇA

Ao som mais experiente

desta canção

dedico minha crença.

Que o sabor da confiança

um dia vença.

Adeus! pedras sangradas

sob minha estátua, suspensas.

Tanta confiança eu perdi,

quando vi a realidade da doença.

À lua feita de pedras coloridas

eu atiro o caixão de minha confiança.

À lua feita destas coisas coloridas;

sabe lá se coisas coloridas

não fazem um milagre?!

Palavras sagazes

fortificadas de ideais.

Confiança não era feita de metais.

Era plástica,

era pendente.

FERNANDO MEDEIROS

primavera de 2005