Canção de Outono
 

O Outono é, entre as estações, a mais bonita.
Nele estão presentes todas as outras estações.
O Outono tem, em si, um pouco de cada época do ano.
Ele é o laboratório onde se desenham todas as belezas da Primavera, 
onde se compõe as mais tristes e frias melodias do Inverno,
onde se preparam os mais misteriosos encantamentos do Verão.

O Outono é a morada dos poetas, cujo teto é feito de estrelas 
e crepúsculos lilases, e as paredes são feitas de folhas mortas,
que esperam para reviver em seus mais apaixonados versos.
O Outono é a estação dos sonhos que ensaiam uma existência plena,
dos amores que fecundam o chão úmido na espera de frutificar.

É a estação de trens dos amores que chegam,
dos amores que se vão, para nunca mais voltarem,
dos amores que, ansiosos, aguardam a época de se encontrarem,
de se reencontrarem, sem ter que jamais partirem.

O Outono é violeta, é azul, é ocre e magenta.
É nuvem passageira, é pó, é pé de vento, é ventania.
É a lira, é a música e a canção.
Há um pouco do Outono em mim,
e há um pouco de mim no Outono.

Sou a felicidade impressa na Primavera.
Sou a melancolia adstrita ao Inverno.
Sou a contemplação deslumbrante do Verão.
Porque tenho um Outono dentro do coração,
a meditar e refletir todas as grandezas do ano solar
nas águas claras que banham minha alma de sonhar.