Às musas(?)

Musa que contempla o Belo

Se a ti não socorre a mão

Do artífice habilidoso

O canto cadenciado

As palavras do poeta

Estarás pra sempre muda

Adivinhando o colóquio

Prazeroso que seria

Do belo refigurado

Transpassando todo o ser

(E quem transpassa não fica;

O segredo é escravidão)

Devora o que vês e joga

A sorte a quem mais compete

Ser arauto do teu jugo

Eu sem ti sou sem sentidos

Tu sem nós um corpo mudo

Não esperes mais profícuas

Mentes, clarões do absurdo,

Divida comigo a triste

Façanha de boa angústia

Vai que não nasce um Camões

Ou outro de menor porte

Musa, reinventa tua sorte:

Não mais em confusos vultos

Inteiro o que inteiro vês

Dá luz o que tu vês luz

Não nos incite penumbras

Liga os nervos dos teus olhos

Às inermes minhas mãos

Assim se eles forem bons

—E todos julgam que são—

Traçaria o sempre exato,

Impoluto; perfeição!

Eu a própria voz do Belo

...

Assim seria um operário

Autômato constrangido...

Mas acaso sou só isso?

Toda alma quer sua mão

Nesse mundo movediço;

Não.

Mais vale ser artesão.

David Ariru
Enviado por David Ariru em 11/01/2022
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