Se esta rua fosse minha...
Nesta rua,
e em todas as ruas
onde não se mora,
(porque se se mora, é casa,
e Exu não tranca, não)
quase tudo se calou.
Arlequim ou Colombina?
Tanto faz, não mais combinam.
Já não chora o Pierrot.
Beijos (gregos & troianos)
cessaram há mais de ano.
Esqueceram o trovador.
Pega-pega, esconde-esconde...
Onde as crianças? Onde?
Acaso dormindo em paz?
Balança, caixão,
fúnebre pêndulo:
viver é efêmero demais....
No cárcere, os inocentes
engendram outro ser.
E eis a questão:
ter ou não ter?
Nesta rua,
o cão não ladra
e o ladrão não furta:
todos em casa!
Até mesmo o botequim,
que cumpria bem seu fim,
silenciou os seus ébrios.
Os velhos sorrisos banguelas
das carcaças, amarelas,
perderam o hálito etéreo.
Quando as máscaras caírem,
cessarão as pantominas
nas ruas daqui, nas de Sampa,
nas do Amazonas, nas de Minas.
Os boêmios, nas calçadas,
farão rodas bem sambadas
com todo peito e afã.
As meretrizes, nas ruas,
desfilarão seminuas
as suas belezas teimosas,
cheirando a leite de rosas
e a perfume de hortelã.
Nas pobres periferias,
(quando as máscaras caírem)
voltarão os velhos dias
de glória da febre terçã.
No fim desta rua,
(e em todas as ruas)
uma tamareira, alta,
secular, exuberante,
florescerá, recalcitrante!,
depois de amanhã...