A VERDADE — Marquês de Sade

O que é esta quimera, estéril e impotente,

divindade esta, pregada ao tolo temente

por um antro horrível de padres impostores?

Querem me colocar entre seus seguidores?

Ah! nunca, juro-o, e manterei minha promessa,

jamais esse ídolo bizarro e nojento, essa

progênie do desatino e da gozação,

fará o mínimo abalo em meu coração.

Glorioso e feliz com meu epicurismo,

eu pretendo expirar no seio do ateísmo

e que o torpe Deus o qual visam me alarmar,

concebê-lo, só se for para o blasfemar.

Sim, vã ilusão, saiba o quanto te detesto,

e para convencê-lo disso, aqui protesto,

queria que pudesse, um instante, existir

para que eu desfrute o prazer de te atingir.

O que é, deveras, esse fantasma execrável,

esse parvo de Deus, esse ser implacável

que nada oferece ou mostra aos olhos e a mente,

que ao sábio é hilário e ao tolo é temor somente.

© trad. Ismael Marck, 2021

Este é apenas o início do poema «La Vérité» escrito por Marquês de Sade em 1787 na Bastilha. Completo, o poema possui 128 versos alexandrinos.

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Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade (Paris, 2 de junho de 1740 — Saint-Maurice, 2 de dezembro de 1814) foi um nobre, político revolucionário, filósofo e escritor francês famoso por sua sexualidade libertina. Suas obras incluem romances, contos, peças de teatro, diálogos e tratados políticos. Durante sua vida, alguns deles foram publicados em seu próprio nome, enquanto outros, que Sade negou ter escrito, apareceram anonimamente. Ele é mais conhecido por suas obras eróticas, que combinavam discurso filosófico com pornografia, retratando fantasias sexuais com ênfase na violência, sofrimento, sexo anal (que ele chama de sodomia), crime e blasfêmia (contra o Cristianismo). Ele era um defensor da liberdade absoluta, sem restriçoes de moralidade, religião ou lei. As palavras sadismo e sádico são derivadas em referência às obras de ficção que ele escreveu, que retratavam vários atos de crueldade sexual. Enquanto Sade explorava mentalmente uma ampla gama de desvios sexuais, seu comportamento conhecido inclui “apenas o espancamento de uma empregada doméstica e uma orgia com várias prostitutas – comportamento que diverge significativamente da definição clínica de sadismo”. Sade era um defensor de bordéis públicos gratuitos fornecidos pelo Estado: a fim de evitar crimes na sociedade que são motivados pela luxúria e para reduzir o desejo de oprimir outros usando seu próprio poder, Sade recomendava bordéis públicos onde as pessoas poderiam satisfazer seus desejos.

Sade via a ficção gótica como um gênero que dependia muito da magia e da fantasmagoria. Em sua crítica literária, Sade procurou evitar que sua ficção fosse rotulada de “gótica”, enfatizando os aspectos sobrenaturais do gótico como a diferença fundamental dos temas de sua própria obra. Mas enquanto buscava essa separação, ele acreditava que o gótico desempenhava um papel necessário na sociedade e discutia suas raízes e seus usos. Ele escreveu que o romance gótico era uma consequência perfeitamente natural e previsível dos sentimentos revolucionários na Europa.

Ismael Marck e undefined
Enviado por Ismael Marck em 09/02/2022
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