INSTILAÇÕES E MUTILAÇÕES DE UM AÇOUGUEIRO

Salgueiro,

o açougueiro.

Vivia triste,

o magarefe,

com a partida

da Margarete.

Ela se foi,

e deixou

o sal da saudade

no Salgueiro:

no quarto,

na sala,

... no saleiro.

O sal da

lágrima,

da saída,

lhe lancinava a alma,

lacerava–lhe o espírito,

cortava sua pele

nua,

crua,

sem o tempero do amor,

apenas com o sal do abandono.

Tempero ou temperança?

Espera ou esperança?

O sangue do ofício,

se imiscuia com o da sua dor,

instilava-se no juízo,

o seu juízo final.

E como fuga,

ou abreviação

do seu tormento,

Salgueiro,

o açougueiro,

viveu seus

últimos dias

a se torturar,

como um animal,

... terminal,

mutilando suas carnes,

e os seus cornos, também.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 20/02/2022
Código do texto: T7456428
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