Boa Vista

Próximo ao campo de bola da região havia uma grota.

Onde os jogadores se refrescavam no intervalo,

onde as crianças brincavam durante o jogo.

Do jeito que Marcel me falou que aconteceu com ele,

a lembrança daquela grota me vem,

involuntária, cristalina.

Desço segurando-me na vara de cipó do lado direito,

ouço o barulho do futebol diminuindo a cada passo que dou.

Estou só.

Deixo o mundo para estar nele de fato.

Ao lado esquerdo, a paisagem de galhos entrelaçados,

uma seminoite amarronzada, preenchida de sons de grilos, sapos.

Vou descendo; as raízes que cortam o trilho íngreme servem de apoio.

Avisto o rego d’água. Já não há som externo, somente uma acústica natural.

Um tímido raio de sol ilumina o curso da água que agora escorre por minhas mãos,

refresca minha garganta.

Mirando a copa das árvores desde o ponto mais baixo tenho a epifania da beleza.

Aquele silêncio.

Aquela visão.

Aquele estado de quietude primeva, roçaliana...

Já se vão quatro décadas tentando reencontrá-lo.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 28/02/2022
Reeditado em 28/02/2022
Código do texto: T7462081
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