Boa Vista
Próximo ao campo de bola da região havia uma grota.
Onde os jogadores se refrescavam no intervalo,
onde as crianças brincavam durante o jogo.
Do jeito que Marcel me falou que aconteceu com ele,
a lembrança daquela grota me vem,
involuntária, cristalina.
Desço segurando-me na vara de cipó do lado direito,
ouço o barulho do futebol diminuindo a cada passo que dou.
Estou só.
Deixo o mundo para estar nele de fato.
Ao lado esquerdo, a paisagem de galhos entrelaçados,
uma seminoite amarronzada, preenchida de sons de grilos, sapos.
Vou descendo; as raízes que cortam o trilho íngreme servem de apoio.
Avisto o rego d’água. Já não há som externo, somente uma acústica natural.
Um tímido raio de sol ilumina o curso da água que agora escorre por minhas mãos,
refresca minha garganta.
Mirando a copa das árvores desde o ponto mais baixo tenho a epifania da beleza.
Aquele silêncio.
Aquela visão.
Aquele estado de quietude primeva, roçaliana...
Já se vão quatro décadas tentando reencontrá-lo.