A MENINA QUE ACUMULAVA SILÊNCIOS

Naquele ambiente ruidoso,

em que nem as palavras

mais resistentes,

conseguiam suportar suas vozes,

percebi a ausência

daquela menininha

com a sua boneca,

que antes observava tudo,

mas não dizia nada.

Pus-me a procurá-la,

nas lonjuras

das minhas tentativas diárias.

Numa manhã clara,

de sol ausente,

encontrei-a ao longe,

depois da curva dos olhos,

quase ao lado do esquecimento.

Estava imóvel,

parecia comunicar-se

com a boneca.

Quando me aproximei,

fui tomado por uma quietude

constrangedora,

pela primeira vez

ouvia a voz do vento,

o canto mudo das folhas,

o som contagiante do vazio.

Neste momento,

percebi que ela estava

rodeada de silêncios.

Era o que mais precisava,

por isso,

secretamente,

os retirou um por um

daquele ambiente hostil,

estavam tristes,

desprezados ...

abandonados.

Hoje todos eles

brincam com ela,

numa alegria

silenciosamente ensurdecedora.

Procurei falar com ela,

entender suas razões.

Ela me fitou com graça,

pegou delicadamente,

em minhas mãos

e me beijou no rosto

com a leveza da sua paz.

Tão pequena,

tão grande em seus propósitos!

Foi aí,

que percebi

que ela não falava;

nem necessitava.

Ela sabia dizer tudo

o que queria

com os olhos:

da face e do coração ...

e com os seus silêncios também.

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 07/03/2022
Reeditado em 07/03/2022
Código do texto: T7466925
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