Andy Warhol

De repente, no meio do Segundo Ato, aquele da confrontação, onde o mocinho tem que enfrentar alguns obstáculos – me veio subitamente a vontade de escrever. De colocar um disco pra tocar – quem sabe a Piaf – e deixar o filme para outra hora, outro dia, talvez exclui-lo da lista. Joyce fica muito melhor em livro. E está calor. E eu realmente não sei por onde sai a teia das aranhas.

Mas, subitamente também, lembro de ter ouvido em algum lugar que não se deve usar a palavra “de repente” em uma história, ou pelo menos, recomenda-se evitar. Não recordo o motivo da recomendação. De repente, eles estão com a razão. Entretanto, foi justamente essa palavra que me ocorreu para iniciar meu texto:

“De repente, era noite – eu em casa com meus dois olhos, minhas duas orelhas, minhas duas pernas, meus dois braços, meu nariz e minha boca cheia de dentes, me preparando para dormir – e o telefone tocou”.

Era ela, ela mesma, aquela, a culpada pelo meu porre de panetone nesse último feriado de carnaval. Queria saber como eu estava, se havia lidado bem com o bloqueio, se Deus, depois de tantas orações e jejuns, havia finalmente entrado no meu coração. “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem, e estremecem”.

Estremeci.

Tiago Torress
Enviado por Tiago Torress em 11/03/2022
Reeditado em 12/03/2022
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