ANJO DE DEUS

Se Deus é por nós,

quem será contra nós?

(Romanos 8:31)

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ANJO DE DEUS

A criança dormia

com as asas

a lhe agasalharem

a inocência.

A casa era muito simples,

a cama fora contruída

em madeira de demolição

da vida que ruiu,

e desabou em abandono

quando seu pai partiu.

Sua mãe o observava com duas lágrimas nos olhos,

uma de dor,

outra para a esperança.

Ela se aproximou,

beijou-lhe

delicadamente seu rosto.

Ele sorriu na linguagem dos anjos,

uma luz vinda de lá

pousou sobre

a testa pueril.

Por um momento,

ela pediu, secretamente,

que uma estrela o viesse buscar,

levá-lo para o lado do constelador.

A vida já havia

lhe negado o brilho

de tantos amanhãs...

Mudou de ideia,

entendeu que caberia a ela

lhe prover as estrelas.

Nesta hora,

uma brisa iluminada

veio beijar a face

da mãe

e secou

a lágrima de dor.

Ela agradeceu a Deus,

por mais um dia ao lado do seu pequeno.

De onde retirava tanta fé?

Não era da terra árida,

nem do sol inclemente.

Era do sonho

de que a seca

não atingisse seu coração.

Ela chorou mais uma

lágrima de esperança,

contarolou para ele

uma litania suave

que a sua mãe

lhe ensinara

em outros tempos

de abandono.

A crianca novamente sorriu ...

e sonhou,

e ela,

dormiu dentro do seu sonho.

Naquela madrugada

choveu,

como nunca

havia chovido.

E molhou seu rosto,

sua terra,

sua vida, antes seca,

agora, subitamente fértil.

Na manhã seguinte,

antes do galo

iniciar seus acordes,

ela abriu os olhos

e viu que o menino

estava lá

a lhe observar.

Ele lhe disse;

— mamãe, eu vi papai!

— Meu amor, seu pai se foi. Não vai voltar!

— Não mamãe! Não é o papai daqui, é o de lá de cima!

— Ele pediu para lhe agradecer por cuidar de mim.

Então ela chorou mais uma vez.

Lágrimas de fé,

gratidão e compreensão.

As primeiras vieiram

com a brisa da noite

que lhe secou a dor;

as segundas, com as gotas da chuva

que à terra deu o frescor;

as terceiras, com a certeza

que cuidava com todo o amor de um dos anjos do Senhor.

E nunca mais parou de chover.

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 16/03/2022
Reeditado em 16/03/2022
Código do texto: T7474349
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