Quando longos eram teus cabelos
Há tempos não escrevo sobre sua barba. Mais precisamente, quando ela roça pelo meu rosto sobre carícias. Também há muitos, não escrevo sobre seus cabelos longos, estes, que já não existem mais.
Em mim existe uma ligeira impressão de que eles marcaram, talvez, a fase mais perto de nossa liberdade, onde as amarras eram vencidas pelo nosso querer. Sim, talvez seja mera impressão.
O tempo se foi, generoso como um bastante: ele continua com seu charme peculiar, sua barba um tanto exacerbada e faz imensa falta em dias que não são de feira.
Tenho desejos absurdos, vontades insanas e revoltas desencontradas.
Ele tem a paciência, a calmaria, porém, seu orgulho sempre sobressai, por vezes ou quase sempre, me hei de confessar.
Torno a discorrer: somos o encaixe perfeito num deleite caudaloso, composto por um vestido azul e também por uma camiseta azul, aquela surrada, que ele tanto usa e gosta para correr. E a mais bela composição de Djavan somos. Assim, bem parafraseando-o, um amor tão puro, sabe a força que tem. Nós sabemos, eu sei, ele sente, mesmo dúbio "que só ele".
Por isso talvez, o amo e espero. Por delongas espero pelo teu cheiro em meus cabelos alisados por teus dedos aos domingos, pela taça de vinho tinto, melodia antiga ao fundo, e nós dois: entrelaçados corpo a corpo nos amando, assim mesmo tão clichê.
Hei de sempre amarte-te, do padecer ao fenecer.
Ao fim e ao cabo, saudades de teus cabelos longos.
Marinara Sena
17/03/21