Ser fluvial

Sou uma criatura de sonhos,

sonhos eróticos e distorcidos

pelas curvas do espaço-tempo

na torpeza dos oprimidos.

Sou uma nota da partitura,

uma nota que ecoa solitária

em um galpão de violoncelos

no subsolo de uma funerária.

Sou a terra que me cobre,

o vento que me procura

e a mágoa que se engole

quando lucidez confunde loucura.

Sou servo da mediocridade,

um qualquer no horizonte

que um dia será um nada

como todos que cruzam a ponte.

Não existo enquanto potência,

somente enquanto ação,

traçando rotas sem convergência

cuja foz é a contra-mão.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 19/03/2022
Reeditado em 19/03/2022
Código do texto: T7476347
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