Não há flores

Não há flores à beira do caminho

Não existem palavras cálidas nos lábios

Gritam açoites, pés cansados e espinhos

Pulsa na alma a dormência dos fracassos

Coabitam em nosso ser  vida e morte

Nesse universo nosso agonizante

Que impera o dito, a lei do mais forte

Mais parece um mal de uma febre delirante

Como é angustiante viver à beira do abismo

Sob o fio da espada, atravessando a carne

Desabando por dentro,  por fora sorrindo

quando todo dissabor,  desbota-nos a face

Cruéis são os fios que embotam a vida

Nos tiram do prumo, de tantos recomeços

Neste círculo vicioso de idas e vindas

Disfarçando insistentemente nossos medos

Não há flores à beira do caminho

Corações solitários infiltrados na multidão

Deambulam, oscilam sem destino

Sonhando utopias, ante à própria degradação

Pés arrastados como mortos vivos

Presos, eternizando um momento

Pra dar a existência algum sentido

Nesse universo paralelo, é o que temos

Porque infinitas vezes neste viver...

Andamos como loucos e cegos

No sentido reverso ...

Onde não há flores

Onde não há norte, nem regresso

... e pra suportar-nos, por vício ou instinto

Desconstruimos o imutável

Tecendo versos pra lidar com tantos vazios.