RUIDO
Leve objeto de porcelana
Quedando no piso,
Barulho de chuva
Arranhando o vitral,
Passos marulhado o corredor,
A respiração de quem dorme,
Cães invisíveis, uivado no vento,
Lápis sobre o áspero papel-rascunho.
Não existe silêncio que seja absoluto,
Mas, ruídos mudos,
Pequenos toques, como goteiras,
Como o avião em vôo distante,
Como criança mórbida que chora,
Como uma porta que se fecha devagar.
Quando estou absorto,
Pensando um poema,
Não ouça a vizinhança flutuante;
Nem seu murmureo habitual,
Não ouço o rádio
Com aquele funk esquisito,
Deixo-me ouvir, com ouvidos de dentro.
Há um outro mundo
Depois do muro,
Atrás das portas,
Das grades definitivas,
Dentro da redoma,
Ou da alcova que me refugia.
Mas, não há, lá, nem cá
Silêncio que seja absoluto,
Mas sempre o arremedo do estálido
E ainda que seja o sopro,
Dum fantasma anônimo,
Roçando paredes,
Haverá, ruídos inaudíveis ao derredor.
Diuturnamente.