Querido desespero

Desespero, querido desespero,

o que é essa sensação que rasga a minha pele?

Que parece querer me partir de dentro para fora a todo segundo; que multiplica o peso de todo o meu corpo por cem, e o dos meus pensamentos por mil; que parece se agitar toda vez que reina o silêncio, toda vez que me fita o espelho, toda vez que estamos a sós você e eu.

Querido desespero,

é tão doloroso esse mar de incertezas; essa montanha de questionamentos temerosos que escurece cada vez mais; que me ameaça com os olhos, imóvel no canto do quarto, enquanto eu tremo para ficar de pé; que cresce de tamanho toda vez que você me pergunta o que fazer quanto a ela.

Querido desespero,

o que eu faço para poder descansar?

O "só mais um pouco",

virou muito

há muitos anos;

o "um dia de cada vez",

me apavora ao fim de cada noite;

não quero " apenas continuar caminhando",

não quero "esperar passar o momento",

eu só quero descansar.

Querido desespero,

por que meu corpo me angustia?

por que minha voz custa sair?

por que eu não posso usar aquela cor que combina com a gente?

ela realmente combina tanto assim?

ela me faria mais eu ou menos eu?

Querido desespero,

me entregue sua sinceridade, mesmo que seja em contradição;

afinal de contas, o que sou eu?

Querido desespero,

sempre valorizei despedidas;

sempre temi a necessidade de uma;

todos os dias anseio em me despedir de você;

talvez mesmo agora, aos pedaços,

eu já esteja à porta, de malas prontas,

com a boca amarga pronta para dizer:

- Estou de partida.

Um Boldo
Enviado por Um Boldo em 17/04/2022
Código do texto: T7497305
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