Espectro

Espectro

Um dia apareço assim

te tomo de assalto

Com meu suave vento

invado teu sombrio quarto

Trago o brilho ensolarado

cultivado em meu jardim

Desorganizo os ponteiros

do relógio de mergulho

ajusto o que foi perdido

tic-tac vira marulho

som de concha e sussurro

do meu mar no teu ouvido

Farejo em sutil contato

narinas navegando teu peito

traço um perfil topográfico

formulo o aroma perfeito

cada poro registrado

na total precisão do olfato

Meus braços te circundam

qual te amarrassem cordas

umidade salivar no pescoço

varrer de cílios no queixo

nas pálpebras um roçar de lábio

Mãos espalmadas em tuas costas

Duas ventosas que te fecundam

Sopro na silente caverna

todo o ar que nos distancia

soletro a alegria louca

grito aquilo que hiberna

-liberdade e maresia -

bem fundo na tua boca

Despertas atordoado

Mas sorrindo diferente

Sensação de pureza leve

E na paz tão de repente

fluindo ao limite da pele

percebes meu eu delicado

Me sabes ali, invisível

e me chamas, aliviado

Nem notas o porquê indízível

de meu espectro abnegado.

Claudia Gadini

23.11.05