Um dia...

 

(1)

 

Então é assim:

um dia eu me vou

num pijama de madeira,

não tem jeito nem maneira.

A questão é:

quanto tempo levará

para se esquecerem de mim?

 

(2)

 

Um dia as cortinas irão se fechar

e vão me separar de vez da plateia.

Com o espetáculo final acabado,

só eu saberei o que tem dos dois lados.

 

(3)

 

Um dia um poeta morto me disse:

vai, João, escreve aí

mesmo que sejam tolices.

Canta teus amores,

fala das flores.

Revela os segredos das vadias,

tão cheias de amor,

e de pudor tão vazias.

Fala das misérias do mundo

e também dos vagabundos,

dos que sofrem os reveses vida,

expondo as chagas e as feridas.

Diga, João,

como sofre um coração

que ama sem ser amado.

A ninguém julgues inocente ou culpado,

deixa isso para os tribunais.

E quando nada mais

tiveres para dizer,

lembra-te dos outros e de mim

e escreve em letras garrafais

FIM.

 

 

_______

Na ilustração, Teatro do Ginásio Alemão em Paris de Adolph Menzel (Polônia, 1815 – Alemanha, 1905).

João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 11/05/2022
Código do texto: T7513792
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