ALUMBRAMENTO (5)

ÊXITO ABSTÊMIO

Sentimento sólido,

penso que sinto.

Beijo insípido,

penso que dou.

Coração abrupto,

bar sozinho.

Amor abjeto,

não sei o que sou.

Vergonha dilatada de um

rosto inepto,

insânia comprovada de um

sonho não-concreto.

Problemas em demasia,

na vida tudo se abrevia.

Esse corpo ineficaz,

com essa falta de esperança,

um adultério como álibi,

num estado de

vivendo na adversidade

desde quando criança.

Esse vício impulsivo,

pávido no seu decorrer e

intruso no meu viver,

adverte o meu sentimento

imutável e sem prazer.

AMOR INDÔMITO

Quando o meu amor aflorar

e o meu coração procurar

por um abrigo,

no gélido mundo corrosivo,

irei lhe amar.

Se não for possível

o meu amor você abrigar,

na intensidade dessa desfeita,

vou deixar de lhe amar,

abdicar desse sentimento

que só termina em ilusão.

Seria ironia

fugir da solidão,

mas, na imensidão do meu desejo,

vou lutar até o fim,

vou encontrar alguém

que goste só de mim.

O QUE É TUDO?

Quem somos nós, afinal?

Não posso definir...

Sou só um grão de areia

sujeito a um vendaval.

Sou frágil, incógnito.

Quem sou eu nesse mundo adverso e

ímpio?

Qual é o meu papel nesse teatro chamado vida?

Por que tantas perguntas para tão poucas

respostas?

Vim aqui para saber

quem me criou só pra sofrer.

Se realmente existe esse

Ser Supremo,

que faz imergir esperança,

por que esse sofrimento algoz

não me faz acreditar?

Como posso confiar, crer, me entregar

a quem não me faz feliz?

O que é paz, o que é amor,

o que é tudo

adjunto a mim?

Oro para encontrar alguém

que faça brilhar

algo dentro de mim.

Não peco,

porque indecisão não é pecar.

Aguardo, apenas,

compreensão, respostas

e resultados dessa

euforia, dessa luta indolente

de quem acusa os indecisos de

serem profanos e hereges.

Espero porque esperar faz parte,

vou continuar até chegar a luz,

antes que seja tarde.

TRISTE CHEGADA

Triste chegada,

naquela noite gelada,

quando eu lhe esperava

a vida já não significava nada.

A esperança tombou na caminhada

e o amor dormiu na beira da estrada.

Triste chegada,

naquela madrugada,

as malas não estavam pesadas,

nelas havia sonhos

que se perderam nessa cruzada.

Triste chegada,

nos seus olhos vi

que não era mais amada.

Triste chegada

a sua,

naquela estação

sorri, amando-lhe,

e você chorou não se conformando.

Decepcionou-se viajando

e já não queria viver cantando.

Triste chegada

foi a sua,

naquela ilusão

de encontrar a felicidade

que não lhe acolheu com devoção.

ELAINE BORGHI

primavera de 2005