Microcrônica de Junho Toda forma de protesto vale a pena

Acordou com um frio da gota serena depois de um pingo de água da goteira do teto do barraco alugado cair bem dentro do seu olho.

Morava só, pois sua chatice não aguentava companhia humana.

Foi na geladeira descascada pelo tempo e que vazava corrente.

Mesmo enfrentando o temor do choque, abriu o eletrodoméstico

E só encontrou uma garrafa com água, um ovo, e uma banda de limão ressecado.

Improvisou uma refeição mequetrefe, xingando o presidente.

Foi ao supermercado, pegou um pedaço de carne de terceira,

Dois pacotes de fubá pré cozido

E um rolo de papel higiênico grosseiro.

Contou as moedas que havia recebido na noite anterior em que ficou pedindo na porta da farmácia e deu paulatinamente para o caixa.

Uma por uma.

Como se aquele pagamento partilhado fosse uma maneira de protesto.