ALUMBRAMENTO (6)

BOCA MARFIM

Calo a boca imunda

que transborda palavras fecundas.

Calo a boca fértil

do motivo fútil,

do beijo inútil.

Calo a boca

que cospe o mal.

A boca com sabor de sal,

a boca do meu caos.

Calo a boca que canta,

que canta a chegada do fim,

a boca marfim,

a boca que enfim

cala as outras bocas

em prol a mim;

a boca que chama a morte,

que reclama a sorte.

Calo a boca que mente,

a boca que sente,

a boca imunda

que afunda

na solidão permanente.

FLORES DO MAL

São muitos corações

para pouco amor.

São muitas gerações

para pouco tempo.

São muitos problemas

para poucas respostas.

São muitas tristezas

para pouca felicidade.

São muitas coisas

que fazemos debalde.

São muitas as flores do mal

para tão poucas do bem.

São muitas mortes

para poucas vidas.

São poucas as feridas

que cicatrizam.

São poucas as dores

que se amenizam.

São poucos os sonhos

que se concretizam.

HORIZONTAL

Pulsa em horizontal

meu coração brutal.

Sofre em horizontal

meu amor plural.

Caem em vertical

minhas lágrimas adjacentes.

Tolices de quem mente

e se sente triunfal.

Olhar horizontal,

pecado original,

deixo minha digital

em seu medo diagonal.

Corpo em horizontal,

palpitação letal,

leito conjugal,

morte fatal!

ELAINE BORGHI

primavera de 2005