O MEU SENTIR
O meu sentir
é um sentir dorido,
desses de dar dó.
É pedrada na nuca,
picada de mutuca:
é como ele só!
O meu sentir
nasce lá do peito
e corre bem ligeiro.
É tapa na cara,
é dedo no olho,
balança-caixão.
O meu sentir
nasce lá do fundo
e pesa mais que o mundo.
É um sentir latente:
vem constantemente,
vem sem avisar.
O meu sentir, travesso,
cai como adereço,
veste-me inteiro.
Que sentir danado!
Sem ser convidado,
entra e estraçalha!
Faz-me de palhaço,
tira-me o compasso,
passo por canalha.
Chega de mansinho,
vem pequenininho
e cresce: baobá.
Ele nunca espera:
é, e não era...
Parece sempre já!
Que sentir maluco!
Mesmo que caduco,
não me livrarei.
Parece que o poeta
traça uma meta:
de sempre sentir.
E dói.