CASA MONTADA

A tua forma feminina

decorou a teu gosto a casa

com traços de requintes simples.

Teu riso de mulher,

pronto para ser feliz

com jeito de ternura antiga,

fez do riso a sua porta aberta.

Ficou atenta aos cantos empoeirados,

dos lustres, dos abajures em escuridão

dos rodapés sonolentos em passos de chinelos,

monótonos e lerdos, como toda a casa em solidão.

Teus braços estendidos

desvestem a janela da cortina

deixando um colo de sol no meu rosto...

É a vida com sabor de gosto

aberta a me desejar luz de bom dia

nesse corpo de manhã enfeitando a casa

que pulsa e arde com a tua presença cheia

de poucos momentos cúmplices vividos a dois

de tantos momentos intensos estando em só um

espaço para que tudo em volta pertença enternecido.

E, depois da casa pronta,

iremos, juntos, calar o pôr-do-sol do Solar,

assistir aquele filme americano para te ver rir

andar de mãos dadas para fazermos a digestão

e, quando em vez, sentir a voz dos amigos comuns.

Comprarmos no mercado aquelas coisínhas necessárias

para alimentar o corpo, para evitar aquela boquinha a mais

por ainda ser muito cedo aos ouvidos da casa o choro inesperado.

Por mais que me digam: mais uma paixão!

Por mais que me falem: tenha cuidado!

Hei de seguir as gambiarras do coração

reluzente qual felicidade

dos objetos da casa, cativos,

que festejam com os adornos

a vida nas coisas inanimadas...

Nossos trejeitos simples decoraram

a mim, a te, as nossas coisas da casa.