Inquietação
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(Poema publicado na antologia internacional "Margens do Atlântico", pela Ed. Abrali)
Foi naquela manhã meio nublada
Em que tímidos raios trespassavam as nuvens
Que a vislumbrei pela primeira vez.
O sorriso alvo iluminava o mundo
E incutia esperança ainda maior
Que os penetrantes raios nascentes.
O tom esverdeado que mirava os meus
Vinculava outros verdadeiros significados a frase
“Os olhos são as janelas da alma”.
A brisa matutina revolvia os sedosos cabelos
O convite mudo, subjetivo: “Faça parte da minha vida”
Rabiscava as entrelinhas da página a escrever.
No início acreditei tratar-se de um sonho
Dos que sabemos estar sonhando
Mas muito relutamos em acordar.
No entanto era deliciosamente real
Ali estava você, doce, sublime, radiante,
O inicio do que para sempre seria lindo.
Não, não... Ainda não entenderam
Aqueles que esperam ou vêem Eros
Nesta fleuma narrativa.
É o prazer da verdadeira amizade
De candura e singeleza inigualáveis
Que encanta meu inquieto coração.
É realmente um anjo aquela que tira meu sono
Nas noites de portentosa inspiração
E me leva a arrebatadas criações literárias.
Mas, embora graciosa, não é a plástica perfeita,
Silhueta harmoniosa, ou exalo de feromônios,
Que faz transbordar minha admiração.
No meu acentuado introspecto característico,
Observo assombrado e às vezes indago-me:
Como pode um anjo não ser feliz?
Qual intrusa atrevida é a indigesta tristeza
Que inquieta o coração e persiste em nublar
Aquele olhar que brilha mais que o sol?
Rogo estar enganado naquilo em que insisto,
Que ela seja realmente feliz no que afirma
E que à noite seu repouso seja tranqüilo.
Pois desde aquela manhã nublada, a primeira,
Meu excêntrico e conturbado coração de fã
Ribomba dentro do peito por uma só felicidade.