à meia-luz

abre-se como

um bicho com fome

como o céu de verão

onde a flor deslizante

acende e ressoa no quarto

a meia-luz.

seus olhos me caçam como

um um cachorro doido,

suas mãos sôfregas conversa

como minha vontade secreta,

já não sei o seu nome

seu endereço, nem a estrada

borbulhante (sua camarada)

agora é um anjo sem roupa

uma deusa crente de sua vontade,

a imperiosa carne procurando

dente, o lábio, a língua mais quente

a mão macia, o aperto dolorido

do inchaço do coito mais feliz,

a cama grita, range, estala,

pois dois corpos balançam

numa rede que acabamos de tecer