DAS MEMBRANAS DA VIDA

A vida vem me fazendo por vezes maltrapilho,

de alma trêmula e olhar acuado.

Por outras vezes, me põe dono de tudo,

senhor do ar, da terra e dos orvalhos.

Isso depende do fervor do seu coração e

das membranas misteriosas que a fazem

pulsar, arguir.

Essas membranas são atrozes e até terríveis.

Não se deixam alforriar e nem dar palpites

do que fazer, do que sonhar, do que aprumar.

São as senhoras do meu destino, falam

com os astros e têm acesso aos rascunhos de Deus.

Deles extraio a seiva que murmura os medos,

as dores, a fé, o que mais for.

Nelas sacio os meus suores mais delgados,

as flâmulas que refastelam os dias,

as cicatrizes que permeiam cada querer-bem.

Sem elas, não há razão de dedilhar essas letras

buscando palavras.

Sem elas, tudo vira pecado, lamúria, desentreter.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/09/2022
Código do texto: T7597194
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