DAS MEMBRANAS DA VIDA
A vida vem me fazendo por vezes maltrapilho,
de alma trêmula e olhar acuado.
Por outras vezes, me põe dono de tudo,
senhor do ar, da terra e dos orvalhos.
Isso depende do fervor do seu coração e
das membranas misteriosas que a fazem
pulsar, arguir.
Essas membranas são atrozes e até terríveis.
Não se deixam alforriar e nem dar palpites
do que fazer, do que sonhar, do que aprumar.
São as senhoras do meu destino, falam
com os astros e têm acesso aos rascunhos de Deus.
Deles extraio a seiva que murmura os medos,
as dores, a fé, o que mais for.
Nelas sacio os meus suores mais delgados,
as flâmulas que refastelam os dias,
as cicatrizes que permeiam cada querer-bem.
Sem elas, não há razão de dedilhar essas letras
buscando palavras.
Sem elas, tudo vira pecado, lamúria, desentreter.