SOLITARIAMENTE

Não mais que de repente,

em incoativo compasso,

a noite vai tatuando

seus escuros

na moldura do luar.

A atmosfera veste-se

de um breu silencioso,

encardido de mistérios

e de outras sombras notívagas.

Em cada espasmo

de escuridão

vão se ouvindo gritos,

aos poucos

se definham em sussurros,

amordaçados em medos

e negras inquietações.

Tudo conspira

em favor das trevas.

O chirriar da ave

dá o tom do negror.

Enquanto

o céu arqueja

sob o manto preto,

o homem

sangra

o véu nebuloso

do tecido demarcado

pela opacidade

do firmamento.

Procura algo de si,

busca encontrar

o que há de perdido

em cada madrugada.

Será a paz

ensurdecedora,

nativa das almas

sonâmbulas

que vagueiam

famélicas

como mariposas

nos rituais

das suas

fototaxias lunares ?

O homem segue

com sua tíbia luz

ao encontro

das respostas

de cada lua

que se descortina

Não sabe ao certo

o que encontrar,

mas desafia a noite,

insone,

eternamente febril...

Precisa prosseguir

antes que ela

o devore,

e o traga

para dentro de si.

Afinal de luz em luz,

a lua anseia se alimentar

das lanternas, candieiros,

e outras fogueiras

que deixamos cair

no tapete que o mar

reflete e

serve de guia

para cada

solidão.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 06/09/2022
Código do texto: T7600034
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