DOS PEQUENOS INTENTOS DO CIDADÃO MÉDIO

Desgostos amealhados em quantidade

e nem meio dia se deu no relógio bege.

Tão bege quanto são a alegrias do dia,

diluídas em espinhosos momentos de tédio.

Nem era pra se escrever tais desinteresses,

grávidos que são de insignificância e feiura.

Mas o que sobra para além do ajambrar dos dias,

além do sabor dessalgado da vida requentada

que se cospe no asfalto e que frita solas de sapato?

Apegar-se assim, tão elegantemente à derrota,

é coisa que se espera do sucesso de uma vida média.

Cantar pela metade, já que o idioma nao foi suficiente,

e gozar em parcelas infinitas, sobre carne fria do adversário.

Quando o dia acaba, acabam-se a fatalidade e a honra,

recolhendo-se à castelos cafonas de muros mofados,

reis de coisa nenhuma e senhores da flacidêz.

Os pequenos tesouros, futuros fracassos bípedes,

serão o orgulho e a desgraça com horas contadas,

revirando os olhos com deslumbre para os maneirismos,

implorando que qualquer que seja o Deus da ocasião,

os retire desse mundo gasto, ulcerado e enferrujado.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 13/09/2022
Código do texto: T7605165
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