Na Frequência do Mundo

Cansado de ir e vir\

Sem ficar em nenhum lugar\

Diante do trem\

Do trem que passa\

Começo a vagar\

A me perguntar\

Num canto qualquer dessa farsa\

A meia luz\

Dessa parede apagada\

E sem graça\

A me corroer\

Mais parecendo um nada\

O que estou fazendo aqui\

Se bem me recordo\

O lugar de onde eu vim\

Sempre me acolheu\

O cheiro de folhas molhadas\

Após a chuva de caminhada\

A casa que me abrigava\

A casa de sapê\

Que eu e você\

Com as mãos no barro erguemos\

Cada roçado plantado\

A meio palmo do rio\

Deixei tudo assim\

Maria Erli saudosa\

A janela esperando a lua sair\

Acompanhada do candeeiro\

Acometida do frio dessa solidão\

Que o fogão a lenha teimam em aquecer\

A viola ali abandonada\

O peixe assado com açaí\

A rede descansada na varanda\

Porque a gente teima em querer sair \

Deixar para traz nossa vida boa \

Para procurar nas esquinas\

Dos grandes centros\

A eletricidade capital das moedas douradas\

Uns títulos de papeis\

Como versão de celebridade\

Pra dizer ao mundo\

Por uns segundos\

Tudo o que não vale de nada\

Pois na realidade\

As minhas mãos sangram\

Enquanto a fome me come\

E a miséria minha única riqueza\

Faz dos meus dias a dor\

Que me consome o peito\

No mesmo trajeto\

Estão um monte de gente tristes\

Se acumulando pra morrer nos quintais dessas cidades\

Ainda procurando na tolice da ignorância\

A frequência de uma importância\

Que não diz nada\

que não diz nada\