REFLEXO

Tenho na moldura algumas possibilidades chulas

Outras avulsas óbvias de não terem acontecido

E algumas vazias que jamais puderam ter sido

Creio ter nascido de algum descuido destes

Pois me enxergo na paisagem que atenta

Vem sendo repetida no vidro de um mesmo espelho

Que apesar de frágil não se torna velha

Mesmo sendo mínima ainda está intensa

Densa em face ao que se encontra lícita

Possível por assim ser cíclica ainda que arrebente

Perpetuará teu riso de menina

Sei que em face ao tempo tudo é passageiro

Que o incrível surge sempre do repente

Por isso amo o nulo e o reflexo das coisas tolas

Em se mantendo livre o pensamento aberto

Talvez seja o segredo de uma imagem boa

Pouco importa se tudo acaba e morre

Quero um gole do teu beijo cor de uva crua

Ao molhar meus lábios no teu vinho puro

Terei sempre em mim teu olhar perplexo

Da certeza de que tua beleza perpetua