a maldição dos olhos de Capitu
que feições tão caras, eu pensei
da ponta do nariz à barba arábica
conhecê-lo me custou a infeliz constatação
de que o amor me olha pelo retrovisor da vida
eu aos onze anos lia e relia que Bentinho amava Capitu
e que Capitu amava Bentinho
e aos doze, aos quinze, aos dezoito
que os olhos de Capitu
que a retórica dos namorados
que o amor
que o amor não é nada do que achamos
tudo é paixão
e mesmo ela é tão difícil
quando se gosta de gostar
de impossíveis, improváveis
de não-merecedores
de comprometidos, dos que
moram a milhares de quilômetros,
dos que só existem em histórias
ou só na cabeça da gente
aprender a ser diferente não deve ser
mais doloroso do que permanecer a mesma
mas tantas faço
e fiz
e farei
sou todas em mim
mas o que sou
não sei dizer
só sei que onde não estou
as palavras me encontram
e se colidem dentro de mim