VEZES ZERO
Nunca pude ser apenas um, e sempre
empreendi fugas de tudo e tão somente.
Tem vez que sou formação veemente,
passageiro das velocidades dos ventos
riscando, ininterruptos, novos desenhos
no espaço entre a cúpula e o firmamento.
Tem vez que nem sei com quem pareço,
pois tantas são as drágeas sob os nervos
(às quatro e quarenta, ou quase cinquenta,
ainda vejo a fumaça do verso, e o oxigênio
desta combustão invisível e sem centelha,
sobre o éter alto na nuvem do não poema).
Inúmeros e nenhum e vários e algum dentro
do teatro solitário à espera da próxima cena,
da outra fala: daquela história esquizofrênica.
— Sou um e uns e ninguém ao mesmo tempo.