Último Romance

Quer saber de mim/

Vai e vê/

Além da porta aberta/

Na estupidez que ando/

Todo dia sangro/

Mas não me vês chorar/

Não me ver temer/

Também nunca me verar pensar/

Admirar, talvez a lua/

As flores por sua/

Aquela candura/

Que me fez crer/

Quem sabe escrever/

Escrevo pelos cantos/

Como escravo apaixonado/

Ainda sigo cego inveterado/

Sempre voltando ao passado/

Pra te amar pelos lados/

Em cela, vivo calado/

Sem iniciativa pra mudar/

A luz de vela ou o quadro/

Como no amor há dor/

Andei tanto/

Mas nunca me pensei importante/

Talvez adjacente dos escombros/

Talvez por isso jamais serei um poeta/

Não sou aquele fidalgo/

Não sei pra que/

E nem onde fica a academia /

Não sei inglês, até gosto de francês/

Mas mal falo o português/

Porque vocês/

Acreditam em mim/

Não há luz no meu quarto/

Não há voz no meu trato/

Enxergo a luta que traço/

Ai vejo você/

Do outro lado/

Morrendo por mim/

A todo custo quer ser do meu jardim/

Mas a vida é cruel/

Nunca acreditei em papai Noel/

Tudo que pedi nunca recebi/

Se quis tive que ir buscar/

Amei uma só vez/

Pra receber um só olhar/

Porque, sei lá, levou o meu coração/

Agora estou aqui/

Como na ficção/

Sem alma/

Sem vontade de fazer nada/

Quase indo embora/

Mas o meu amor/

Foi naquele olhar/

Sem pensar/

Como um conto de fadas/

Alguém apareceu/

Cativou minha inocência/

Paralisou minha resistência/

Misturou a minha /

Pouca idade a sua/

E tudo se perdeu/

Hoje no divã/

Cujo vazio dos segundos/

Vai e volta/

Assume aquela essência /

Como indulgência/

De um tempo que não está/

Me faz a essa casa até retornar/

Pra descobrir meio masoquista/

Que você é apenas uma/

Das lembranças/

De quando éramos crianças/

E que, se não for desse modo/

Jamais voltará /