Borboleta

Me esperas atrás da porta/

Com roupas glamurosas/

Perfume a me embriagar/

Num estado de partida e chegada/

Feito lagarta /

Beija-me frustrada/

Logo na entrada/

Porque o tempo se põe a te avisar/

Que a tua beleza falada/

Já começa a apagar/

De umas duas horas/

Deito no teu leito/

Embriagado descanso no teu peito/

Sentindo o calor desse deserto/

Meio que sem jeito/

Compreendo e respeito/

Aí sedento/

Bebo de tua boca/

Como de tua carne/

Sob o ímpeto do excesso/

Num vício descarado/

Me lambuzo todo feito/

Urso no melado/

Ouço tua farsa/

De gemer para atiçar o meu prazer/

Vejo teu esforço pra ser/

A minha fantasia/

Viciado incomedido/

Apalavrado capital/

Faço mal/

Uns carinhos dobrados/

Uns beijinhos enganados/

E já estás na porta a te vestir/

Porque outro cliente está por vir/

Me recomponho/

Mesmo sem entender/

Você meio fria/

Vedete que se reveste/

E repete-se nesse ritual/

Quase todos os dias/

As vezes cheia e vazia/

A bem da verdade /

Tão humana como qualquer ser/

Durante tempos nessa lida/

De marcas e sofrer/

Se acostumou a só exercer/

Mas cada um assume/

Seus riscos na estrada dessa vida/