DESASSOSEGOS
Faz sentido escrever pra quem não lê?
É como cozinhar um banquete e ter que jantar sozinha
Combinar de se encontrar no ônibus e descer no fim da linha
Me arrumar a tarde toda pra esperar por quem não veio
É solidão, vazio, é andar sempre no meio.
É entrar, sair e nunca ser notado
É querer conquistar o mundo e ficar sempre sentado
É tanta tristeza que nem cabe escrever aqui
Somente existir, suportando o que há por vir.
É desamor, nem vale a pena falar
Tentar mudar e nem conseguir expressar
No domingo não ter ninguém pra me ligar
Não ter ninguém disposto a ler
O que no mais, ninguém nem quer saber
O relógio corre e o feed também
O olhar perdido passa com desdém.
O brilho já desgastou com o tempo,
As ranhuras, marcas e arranhões
Já não se pode esconder, e pra quem negar?
Só queria me encaixar,
Precisava me encontrar!
Cansada da vida, lugares, da situação
Sempre há uma contestação
Sem paradeiro, raízes, ou trivial
Me sento acompanhada,
e já me sinto estupefata:
O desassosego de mim não larga.
A inquietude de mim não sai,
peito caído, pensamento perdido.
Inflada, agoniada,
permiti que fizessem morada
E hoje não sei como dizer
que já não estou enamorada
18/10/2022