Marianne

Já cansei de rebeldia/

Mas como tantos/

Eu queria dizer/

De quantos /

Nos quintais havia/

Que em silêncio morria/

Eu queria dizer/

Que nos acostumamos/

A crer em quem faz/

Por seus interesses/

Se o céu é azul/

Se há flores na praça/

Os pássaros continuam cantando/

E as dores da bandeira são as mesmas/

Então não há o que mudar/

A história que repete é vulgar /

Essa não é a razão/

Pra quem não tem coração/

Eles querem poder/

Porque veem no dinheiro/

Solução para bem viver/

E só entendem outra versão/

Quando bate a porta o desespero/

Aí, a humildade faz a visão/

Porém, as vezes/

A realidade já vem tarde/

Porque já fomos enganados/

O que nos foi passado/

É uma mentira/

Somos escravos de um passado/

Forjada em prazeres, luxos e fantasias/

Por isso há tantas vidas vazias/

A bem da verdade/

O amor é quem subsidia/

Essa é à raiz da luz/

Não essa miséria/

Não essa agonia/

Acontece que a folia contagia/

E a orgia vicia/

Por isso todos vão/

Morrer pelo outro/

No trem da falsa alegria/

Passar por sacrifícios durante o dia/

Não passa de melancolia/

Ninguém quer se responsabilizar/

Ninguém quer ouvir falar/

Só sabem jogar/

Por tanta confusão/

Das leis de igualdade/

E jornais de imitação/

De tanta liberdade/

Que a censura de padrão/

Filiou dementes/

Senhores entre o confuso/

E os Indiferentes /

A levantar as vozes e as faixas/

Para discutirem o que não resolvem/

Andam horas pela avenida /

Gastando suas forças e salivas/

Porque bem ou ruim, tanto faz/

Se tem um pedaço de chão/

Se sua mesa tem pão/

As favas com o irmão/

Amanhã o sol levantará/

E o bolso com as moedas/

Da compra da alma/

Falará Deus proverá/

Pouco se aprendeu/

Como vimos na pandemia/

Como assim se vê na liturgia/

Vivemos todo dia uma guerrilha/

Ouvindo as notícias de uma guerra fria

Onde os mortos, quem diria/

Nem tem serventia/

Mas não muito longe, a janela da casa/

Da pra ver/

Intelectuais marchando/

Procissão de ignorantes rumando/

Em prol do egoívismo/

E vejo mais/

Em oração de dor/

Pais desempregados e famílias/

Sem tetos e sem mobília/

Revirando lixo das ilhas/

Enquanto no palanque da sala/

Ídolos e ideologias/

Dividem nossos filhos/

Com o que chamamos Democracia/

Só não entendo/

Porque além desse fuzuê/

Além desse sofrer/

As mãos desses salvadores/

Que vivem como ervas da ninha/

Nunca se unem/

Pra construir, igualar ou fraternizar

A esperança, a vida desse povo/