CRIATURA ALOPRADA

Amor, salamandra matreira

de nervuras aflitas, gananciosas,

de estações secretas, soberanas.

Amor, repleto de vãos, becos e sombras,

untado de sinos e repiques mil,

lotado de porteiras escancaradas, descaradas.

No amor toda razão derrapa,

toda certeza agoniza,

todo senão abdica a coroa.

Do amor, perdigueira mãe,

criatura endiabrada, aloprada,

cigano à procura de abrigo, de redenção.

suor â cata de qualquer alforria.

Amor, gargalo solene, véu espesso e rouco,

lastro que nunca desafina, nem resvala,

torpor vadio, abençoado e vil.

Amor de pétalas faceiras, desarrumadas,

destrona Deus quando bem quer,

arrebata o melhor dos dias, os piores idem.

Na sua fonte refiz meu legado,

na sua fé afiancei meu canto maior,

no seu arremate esqueci a que vim.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 25/10/2022
Reeditado em 25/10/2022
Código do texto: T7635152
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