QUANDO A ALMA VOLTOU PRA VIDA
Tem vezes em que a alma se zanga,
fica turva, enfeia de vez.
Nessas horas seus ossos fraquejam,
ficam indigestos, capengas,
titubeiam e desnorteiam seu chão.
Então a alma descabela, entristece,
bagunça a fé, destoa o legado,
fica ranzinza, maltrapilha, triste mesmo.
Nem os anjos e o ar se dão conta disso,
é coisa que só relampeja dentro dela,
não mostra pra ninguém.
São dias aflitos, trêmulos, cabisbaixos.
Mas, como tudo, não é eterno.
A alma se lembra daquele pedaço que
guardava esquecido num porão.
O pedaço sem gosto especial, de textura amena,
sem a pretensão de estrear, encantar e nem fazer bonito.
Daí chama o tal pedaço.
Ele fica reluzente, anima suas turbinas,
tira o pó da pele, limpa a ferrugem que infestava
cada poro e cada canto.
E vem à tona aquecido. reluzido, decidido.
Lindo como nunca tinha se feito antes.
Ter se lembrado dele o fez gigante,
o fez se maravilhar, o fez virar universo,
Assim a alma recompôs seu canto, sua graça,
e o seu legítimo caminhar.