Choro

Choro porque não suporto tanta dor, porque percebo e sinto todo o sofrimento que há. Choro como chora o abandonado, o maltratado, o reprimido, o humilhado. Choro a solidão, o medo a impotência. Para declarar a dor eu choro, para silenciá-la também. Choro a criança escorraçada, a criança retirada do colo da mãe. A agressão ao corpo miúdo põe-me aos prantos, também o desrespeito a entidade infantil, sua pureza e fragilidade. Meu pranto. Choro o grito contido, um choro engolido, sufocado, indefeso. Choro o ciúme, a covardia e a intolerância. Choro a brutalidade do grito que paralisa e anula. Choro mais a dor de sentir amor por quem provocou meu choro.