DOIDO E DOÍDO
Nos varais da vida penduro sonhos mal ajambrados,
também os passos que erraram de chão.
Penduro as mazelas que sacudiram sua ferida,
também os brilhos tão suadamente aninhados.
Penduro as verdades que deixaram o tempo em banho-maria,
também os galopes que ecoaram em mansas toadas.
Penduro nesses varais os tímpanos atrozes do medo,
também as alegorias fugazes do querer-bem.
Penduro cada grito destriçado pelos ventos da covardia,
também cada pedaço de pele untado nos tentáculos da fé.
Nos varais da vida refogo o que tenho de mais doído,
também o que tenho de mais doido.
São varais espartanos, de lastro arejado, olhar atento,
nos quais recosto meus dias num delgado açude perfumado,
quando não há voz contra, nem tampouco raiz descabelada,
neles estarão meus encantos e desencantos mesclados numa folia só,
à qual rendo meus préstimos, rebarbas e, por certo,
o porão das certezas.