A IMPLOSÃO DA VALSA

O que te embrulha o estômago e adoece,

o que te traz o gosto mediano da derrota,

é a sala cheia de poses de teatro ulcerado

afogado em bebida ruim e ultraprocessados.

Lá fora, a guerra faz corpos estraçalhados,

cujos restos repingam protestos ressentidos,

tirando o ponto de fuga do racionalimso mofado.

E bêbado do horror cacofônico do outro lado,

onde se pisa o chão em compasso truncado,

cai-se aqui e alí, pela indiferença, resignado.

Um traste sem rumo, mulambo manipulado.

Quando nasceu lá longe esse bailado,

improvável entre a ignorância e o escárnio,

foi dar entre lustres e candelabros,

de um tempo esquecido entre linhos e retratos.

Vertiginosa é a vida breve de um passo calculado,

que termina sempre no inferno que é o acaso.

Fizeram a carnificina, a baioneta e o desastre,

pra engolir harmonias que lembrem a paz.

E aqui estamos todos nós, dançarinos,

coreografados sobe cadáveres e remorsos.

Bombas para todos os lados.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 15/12/2022
Código do texto: T7672752
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