Esqueço-me do meu pensamento
Esqueço-me já das coisas. E minha cabeça
estremece por dentro de por fora. Vejo
essas mesmas coisas
que nem sei se sinto
nem sei se penso, nem as desejo
porque as esqueço do meu pensamento.
Falo… e penso que penso
nas coisas que nem sei se vi.
E fico absorto sonhando as coisas
que já nem sei que coisas eram
porque as esqueci.
Tal o encanto.
Às vezes estou na frente das coisas
de que me esqueci
e vejo com amargura
que o conhecimento que tinha das coisas
aos poucos foge de mim.
Depois
imagino-me num campo sem rosas
perdido
nos limites duma loucura
que grita alto
em sobressalto
numa eterna e difícil procura
sem sentido. E digo:
- Como tudo é diferente das coisas
outrora vividas
que penso e vejo aos poucos
tremendamente de mim esquecidas.
À noite é pior. Cresce aos poucos
a ideia,
que há no meu pensamento
algo parecido com o vácuo tão próprio
dos loucos.
Olho-me ao espelho. Tento ver em mim
qualquer coisa ruim
em mim perdida.
Examino-me por dentro
e que vejo?
- Apenas líricas rodas da vida.
E quero gritar
as minhas ideias desvairadas
que tinha antes, das coisas, que vejo
agora
aos poucos acabadas.
Eu juro que nesses tempos nem sequer
adormecia
quando algum contratempo
impedia
de ver um sonho realizado.
Hoje tanto se me dá
como se me deu…
Parece que nem sou eu!
Já nem sei que coisas quero
nem se coisas há que não quero.
Sinal que estou acabado.
O rigor doutros tempos era duro.
Brutal mesmo. Desvairado. Grave.
Devastador, até!
De granito. Como as rochas.
Hoje é brando e suave
como a minha vida que se esvazia
aos poucos
numa câmara escura a que faltou a luz
das tochas.
É terrível, devastador, profundo
o vazio deste pensamento
adormecido.
É como o prenúncio dum fim do Mundo
depois do seu Criador já ter
morrido.
___Inserto no inédito "O OUTRO LADO... de mim"
Publicado em Dezembro2007 no site "USINA DAS PALAVRAS"